Otávio correu para pegar o telefone, mas foi impedido pela mulher amarela, que fez um vento forte ficar entre o homem e o aparelho.
Pâmela estava chocada e, começando a chorar, perguntou:
- Jessica, por que? Por que você nunca me contou?
- Pamela, não faz drama! E eu tinha motivos para te contar? – Falou Jessica, animada.
- Quando a Stefani foi atacada pela de azul, você podia ter me falado. – Falou Pâmela, começando a se irritar.
- Nós viemos ver se ela estava bem, ela está… Então, pra que isso? – Falou Jessica, começando a ficar séria.
Pâmela abaixou a cabeça e perguntou “amizade?”, fazendo a mulher amarela ficar comovida.
Ela caminhou até Pâmela, colocou a mão no ombro da mulher e se explicou:
- Pâmela, não age assim… Se eu fosso contar isso para todas as pacientes que também são amigas, seria difícil controlar esse segredo. Você sabe que eu tenho família.
Quanto o fim da frase chegou aos ouvidos de Pâmela, ela deu um pulo, falando mais alto do que pretendia:
- Seu marido é policial!
- Por isso, entende agora? – Questionou Jessica.
A mulher amarela caminhou pela sala e encontrou um lugar onde podia encarar todos os presentes e começou a falar:
- Eu não sou inimiga do vocês, pelo contrário. Eu não vim chamar a Stefani para o combate. Eu vim proibi-la.
Ninguém ali esperava por aquilo, o que fez Jessica rir e continuar:
- Vocês acham mesmo que iríamos deixar uma garota de quase 16 anos enfrentar pessoas que, se puderem, vão matá-la?
- Então, por que não tiram isso dela? – Perguntou Estela, meio aliviada.
- Não dá. Mesmo se ela tivesse vomitado na hora que comeu, não ia adiantar. – Explicou Jessica.
- Mas e agora? E a aparência dela? – Perguntou Otávio.
- Uma de nós tem uma chácara, que usamos para treinar. Como a Stefani vai ficar afastada da escola por causa do nariz, podemos levá-la para lá; assim ela vai treinar com calma e dominar esses poderes minimamente bem. – Explicou a mulher amarela.
Otávio e Estela se olharam, Augusto encarou a mulher e questionou:
- Quantos vão poder ir com ela?
- Todos, a chácara é grande. – Falou Jessica.
- Todos não. Dois vão, dois ficam. Se der algo errado… A gente liga para o exército. – Falou Augusto.
Jessica gostou de saber que eles eram precavidos. E combinaram que Augusto e Pâmela acompanhariam Stefani, pois o pai da garota não podia se ausentar do trabalho. Mesmo sem ser dito, Augusto, que articulou tudo, sabia que Estela nunca deixaria Pamela e o marido para traz.
Augusto inventou uma desculpa para os funcionários do mercadinho e deixou Estela no comando.
Naquele mesmo dia, à noite, Augusto e Pâmela foram até a chácara, com o endereço passado no GPS.
A viagem demorou umas duas horas e meia. Quando eles pegaram uma estrada de terra, já próxima da chácara, o clima ficou pesado e todos sentiram um arrepio pelo corpo.
Algo ali era muito estranho. Várias aves, que no escuro pareciam todas iguais, estavam empoleiradas em tocos, cercas, postes, fios elétricos, ao longo da estrada. Parecia que elas estavam ali para vigia-los.
Quando eles chegaram em uma porteira, viram do outro lado uma vaca os encarando através do alambrado. Augusto desceu para abrir a tranca, mas foi surpreendido. A vaca havia começado a mexer na tranca com o chifre, abrindo-a e puxando a porteira, também com o chifre.
Augusto voltou para o carro e passou a porteira, porém outra vaca impediu o trajeto.
Enquanto a primeira vaca fechava a porteira, a segunda fazia alguns gestos com a cabeça, virava de costas para o carro e saía andando. Ela repetiu isso várias vezes, até que Augusto resolveu segui-la.
Stefani, achando graça, perguntou se as vacas pareciam robôs. Augusto respondeu que não e Pâmela estava quase quebrando a tela do celular de tanto tentar ligar para Jessica, sem sucesso.
A vaca os levou até um descampado, onde uma garota parecia ajudar uma égua a dar a luz. Quando os três saíram do carro e se aproximaram, a história era outra. A égua estava morta. A garota fazia carinho na cabeça do corpo do animal e dizia que tinha sido um acidente, que ela não precisava se preocupar, que os filhotes dela estariam bem.
Depois de mais alguns instantes, a garota se levantou. Ela era bem bonita, tinha uma aparência de uns 14 anos, negra, com um belo par de seios, cabelos amarrados em um rabo de cavalo. Ela também era bem gordinha.
A jovem encarou Stefani e se apresentou:
- Boa noite, me chamo Laura. E é muito bom receber aqueles que acompanham a mestra dos raios.
- Como assim mestra? – Questionou Augusto.
A garota sorriu e respondeu:
- Todas as que controlam um dos elementos podem ser chamadas de mestra.
Então, sem aviso algum, um cavalo se colocou atrás de Laura, enfiou a cabeça por entre as pernas dela, levantou-a e colocou-a no lombo. Ela segurou em sua sela, a única coisa presa ao corpo do cavalo, e pediu que a seguissem.
No carro, enquanto seguiam Laura, Pâmela estava abraçando a si mesma. Stefani, agora que podia acender uma lâmpada com a mão, não estava conseguindo achar mais nada absurdo e perguntou:
- Pâmela, você tá com tanto frio assim?
- Você viu! O cavalo veio, pegou ela e ela agiu como se soubesse! Isso é estranho demais.
Stefani pegou uma lâmpada de emergência que o avô sempre deixava no carro, ligou um cabo USB e a fez acender, para que Pâmela visse, mas ela permaneceu calada.
Quando eles chegaram na casa da chácara, ficaram impressionados. Era uma casa muito grande, de dois andares. Só a casa devia ter 100 metros de largura e uns 200 de comprimento.
Laura foi guiando os três por dentro da casa. Primeiro passaram por uma grande varanda com churrasqueira, quatro grandes mesas feitas de troncos de arvore e belas cadeiras de madeira.
Em seguida, passaram pelo que parecia ser uma cozinha de festas, de onde Laura abriu uma porta que deu para um largo corredor, que tinha apenas uma outra porta na extremidade oposta.
Quando eles chegaram na frente da porta, Laura bateu na porta e falou:
- Leidi, a mestra dos raios chegou.
Então a fechadura da porta fez um som de desbravamento, Laura abriu a porta e todos entraram.
A sala era um ateliê de estilismo. Uma mesa, bem ao lado da porta, exibia uma pilha de tecidos coloridos, das mais variadas categorias, vários manequins, vestiam peças avulsas ou roupas completas.
No fundo da sala havia uma mesa com materiais de desenho e um computador, anexo a uma maquina de costura. De pé na frente da mesa estava uma mulher negra, menos musculosa do que Stefani se lembrava do episódio do cinema.
A mulher caminhou lentamente até eles e se apresentou:
- Sejam bem vindos. Meu nome é Leidiane.
- Espera, Leidiane, aquela estilista que acabou de abrir sua rede de lojas? – Perguntou Pâmela sem acreditar na possibilidade.
- Sim, sim querida. Eu tenho que admitir, foi um feito. – Respondeu Leidiane corando.
- Eu li a sua trajetória em uma dessas revistas de negócios, mas não lembro qual. Mas é uma história inspiradora. – Falou Augusto coçando a cabeça.
- Desculpa, eu não te conheço. – Falou Stefani.
- Eu sei. Não tenho um apelo muito forte com as jovens. – Olhou para Augusto. – Obrigada pelo elogio.
Leidiane se aproximou de Stefani e pediu desculpas pela negligência e pelos problemas que isso causaria.
Stefani respondeu que estava olhando pelo lado bom, pois agora nunca ficaria sem carga no celular.
Leidiane riu e pediu para que eles ficassem a vontade, que ela teria que terminar alguns trabalhos.
Depois de descarregarem as malas e ajeitarem as coisas nos dois quartos, Stefani, Pâmela e Augusto estavam observando as estrelas na varanda. Laura colocou algumas bolachas e leite sobre a mesa e falou olhando para Stefani:
- Stefani, eu sei das coisas e acho errado guardar. Então, cuidado, não é certo, mas as chances de você perder algo que pode se tornar precioso é grande.
A cara de interrogação de Stefani foi muito grande, mas Laura a ignorou e se voltou para Pâmela:
- Você tem sorte, Pâmela. Poucas pessoas são tão amadas quanto você. Aproveite esse amor, pois parte dele pode se tornar uma agonia.
Pâmela ficou branca, mas agora era a vez de Augusto:
- O senhor é forte, está carregando o mundo nas costas. Mas, quando você cair, esse fardo vai causar dor às pessoas ao seu redor.
Então, para a surpresa de Pâmela e Stefani, Augusto respondeu:
- Eu sei.