Finalmente, depois de quase duas semanas, Stefani voltava para a escola. Ela trazia consigo um corte na bochecha, que só não estava pior por causa das propriedades curativas das frutas mágicas.
Uma técnica que Jessica chamou de Lâmina de Vento quase havia vazado a carne, mas Stefani foi ágil o suficiente para se mover o bastante para evitar parte do dano.
A garota foi deixada na porta da escola pelo pai. Assim que passou pelo portão, todos a encaravam imaginando o que poderia ser aquele corte.
Ricardo se aproximou dela preocupado, mas ela o acalmou dizendo que havia sido um acidente.
O rapaz estava realmente preocupado pois, na visão dele, tudo o que era possível dar errado na vida de uma pessoa estava acontecendo na de Stefani.
Instantes depois Viviane passou pelo portão, chamando a atenção de todos pela expressão de sono e cansaço que ela demonstrava. Geralmente ela era vista tão animada que aquela aparência só podia significar doença ou que alguém havia morrido.
Várias pessoas questionaram a garota se alguém da família dela havia sido morto nos massacres. Ela respondia que não, que era apenas um cansaço anormal.
Porém, quando Stefani e Viviane se cumprimentaram, perguntaram uma para a outra se esta estava bem. Depois saíram andando, juntas, até a sala de aula.
Todos os estudantes ficaram realmente confusos. Eles ainda se lembravam da forma como Viviane havia quebrado o nariz de Stefani e como esta havia saído da escola com um sangramento bem feio.
Ricardo foi cercado e fuzilado por dezenas de questões. Tudo o que ele dizia era que as duas tinham se resolvido, o que levantou um boato de que Viviane e Stefani estavam namorando.
Viviane só ria do boato, que causava incômodo em Stefani, pois a fazia lembrar do beijo que havia recebido da amiga.
Porém, para Ricardo os boatos estavam sendo positivos. De um nerd quieto e calado ele havia se transformado no cara que estava dormindo com duas garotas ao mesmo tempo.
O rapaz desmentia tudo, mas cada vez que ele fazia isso os boatos ficavam mais fortes.
Stefani ficava indignada como tais mentiras estavam se tornando verdades absolutas na escola e temia que isso se espalhasse pelo bairro.
Antes do início das aulas a diretora chamou toda a escola para o pátio. Lá, todos fizeram um minuto de silêncio pelas vítimas dos massacres. Então, depois, cantaram o hino nacional, que segundo a mulher servia para mostrar que todo o país estava unido.
Stefani não estava conseguindo cantar; a cada estrofe, ela lembrava da gravação obtida por Vitório e se revoltava. Viviane cantava como um robô e Ricardo, que não sabia da verdade, mostrava entusiasmo.
Depois do primeiro período de aulas, no intervalo, Stefani se aproximou de Viviane e a questionou sobre Fake. A garota respondeu que ele parecia um tanto perdido, mas que pelo menos estava evitando falar.
Stefani ficou aliviada e questionou o que os pais de Viviane haviam feito quando ela contou os segredos para eles.
Segundo Viviane, eles não haviam aceitado nada bem. Achavam que era melhor ter sequestrado Fake do que colocar a filha deles nessa confusão.
Leidiane havia dado ordens para que Viviane contasse tudo para os pais. A mulher não queria envolver uma pessoa menor de idade nessa história sem contar para os pais dela.
Viviane passou a mão na bochecha de Stefani e falou que a aparência estava melhor em relação ao dia anterior.
O gesto de Viviane passando a mão no rosto de Stefani só reforçou as suspeitas dos outros estudantes.
Stefani ficou irritada e quase saiu atirando raios, mas se lembrou da visão de Laura, sobre como isso tinha sido ruim. Conseguiu se segurar.
Viviane piscou para Stefani e puxou Ricardo para entre as duas, ficando de braço dado com o rapaz. Stefani, que queria ver o que a amiga tinha em mente, também deu o braço para ele, enquanto Viviane dizia baixinho para o rapaz: “É minha forma de pedir desculpas”.
Pronto, a fama do rapaz havia mudado de vez, se tornando o assunto pelo resto da manhã.
No horário da saída, Augusto estava esperando Stefani. Ele fez sinal para Viviane vir junto.
No carro, Stefani viu um embrulho no chão do banco de trás e perguntou o que era. O avô respondeu:
- É a arma que o Marcos arranjou para o seu pai.
Para Stefani, a parte mais assustadora dos dias de treino foi saber que o pai havia aprendido a usar uma arma.
Viviane perguntou se havia algo para os pais dela, mas Augusto disse apenas que Vitório os procuraria.
Augusto deixou a garota loira em casa e levou Stefani para a casa dela.
Stefani deixou a arma debaixo da cama dos pais como havia sido combinado, voltando em seguida para a cozinha para almoçar.
Ela contou para a mãe o que estavam falando dela e de Viviane, mas a mulher sorriu e disse que logo isso seria esquecido.
O resto daquela quinta-feira passou calmamente, assim como a sexta. Porém, no sábado de madrugada Viviane acordou Stefani, dizendo que a boate onde os pais trabalhavam estava tomada por alguns homens armados.
Stefani avisou Leidiane, que falou que a polícia já estava lá, mas estavam com dificuldades de entrar e encontrar os bandidos por causa da quantidade de pessoas no estabelecimento.
Stefani faria dupla com Jessica, pois Leidiane e Tatiane estavam em viagem de negócios.
Enquanto Stefani era carregada por Jessica, que voava até o local, ela ficou pensando no que os pais de Viviane faziam em uma boate.