Ainda naquele sábado, pela manhã, Stefani estava fazendo seus deveres de casa, em seu quarto. Ela estava bastante orgulhosa de si mesma. Afinal, dessa vez, as Sumpermulheres não fugiram da briga. Pelo contrário, elas fizeram a diferença. E, principalmente, ela havia agido sozinha no final e tinha feito um bom trabalho.
Durante o almoço, Otávio deixou a TV da sala ligada para que escutassem o jornal da TV Padrão.
O acontecido na boate virou notícia. A polícia conseguiu descobrir que o dono da boate havia contratado os homens capturados por Faísca para forjar um assalto e acionar o seguro.
A polícia também descobriu que a casa na qual a passagem secreta da boate saía era um depósito de drogas e bebidas falsificadas.
Felizmente, a investigação, até aquele ponto, não havia encontrado nada que pudesse acusar os pais de Viviane de qualquer crime.
Stefani ainda se perguntava que tipo de trabalho os pais da amiga tinham, mas a notícia seguinte atraiu a atenção da garota.
A reportagem falava de uma ONG, chamada Abraço Fofinho, que tinha como objetivo presentear ursinhos de pelúcia a pessoas, principalmente crianças, que tivessem passado por experiências traumáticas.
A matéria ainda dizia que, devido a um patrocínio, várias crianças que perderam os pais nas chacinas iriam ganhar os presentes.
A ONG também usava um site de financiamento coletivo, para arrecadar mais dinheiro o presentear mais crianças e até adultos, se fosse possível.
Stefani e a mãe acharam a iniciativa fantástica e decidiram que doariam um ursinho para a ONG.
Otávio, por outro lado, achava aquilo um absurdo. Afinal, essas crianças realmente precisariam de educação, alimentação e cuidados de verdade. Porém, com medo de passar por insensível, ele resolveu ficar quieto.
Enquanto Otávio lavava a louça, Stefani e a mãe faziam a doação.
Stefani terminava o cadastro do cartão de crédito, quando a campainha tocou e Estela foi atender.
Foi uma grata surpresa. Pâmela e os pais entraram na casa, com Estela os guiando até a sala.
Augusto também entrou, mas se demorou na cozinha conversando com Otávio.
Para todos foi um grande alívio ver a mãe de Pâmela bem. A mulher havia passado por uma angioplastia, que havia transcorrido sem problemas.
Alguns minutos depois, Viviane chegou à casa da amiga, trazendo Fake consigo.
Stefani ficou preocupada quando viu a amiga. Ela estava com os olhos vermelhos e com olheiras, além de uma expressão abalada.
Stefani perguntou se tinham encontrado algo contra os pais dela. A garota respondeu que não, mas que eles ainda estavam na delegacia.
Viviane se sentou à mesa da cozinha, colocou os braços sobre o tampo, se debruçou sobre eles e começou a chorar.
Stefani achou que não era uma boa hora para perguntar qual era o trabalho dos pais da amiga e permaneceu calada, apenas colocando uma mão sobre os braços de Viviane.
Fake, que sabia que não podia falar em qualquer lugar, foi se deitar entre o vão que existia entre um dos sofás e a parede na sala.
Alguns minutos mais tarde, Ricardo tocou a campainha e Augusto, que estava no quintal, deixou o rapaz entrar.
Quando Ricardo viu a quantidade de pessoas na casa e a situação em que Viviane se encontrava, ele fez uma cara de quem estava decepcionado.
Stefani perguntou o porquê daquela cara e ele respondeu:
- Eu ia te chama pra ir no cinema, mas pelo jeito não é um bom momento.
- Se for por causa de mim, podem ir. Eu fico aqui, só não quero ficar sozinha em casa. – Falou Viviane com a voz abafada pelos braços.
- De jeito nenhum. Além de você eu também tenho outras visitas. – Falou Stefani.
- Eu acho que eu vou embora então. – Falou Ricardo.
- Não! Fica aí. Só porque eu não posso sair agora, não significa que você tenha que ir embora. – Falou Stefani.
Ricardo ficou parado sem reação, mas acabou puxando uma cadeira e se sentando ao lado de Stefani.
Ele perguntou por que Viviane estava daquele jeito e a própria Viviane explicou.
Ricardo ficou surpreso quando ficou sabendo que os pais de Viviane trabalhavam em uma boate e questionou o que eles faziam lá. A garota respondeu, tirando a cabeça dos braços:
- Eles faziam apresentações lá…
- Mas a HX era uma boate privê! – Falou Ricardo.
- Sim, então acho que você sabe o que eles apresentavam lá. – Falou Viviane.
Ricardo estava constrangido e, para sair dali, perguntou onde ficava o banheiro. Enquanto o rapaz se levantava da mesa, Viviane, que realmente gostava de provocar, acima de sua própria tristeza, falou:
- Vê se não vai homenagear meus pais.
Essa frase fez Ricardo subir as escadas correndo. Stefani, que também estava constrangida, falou:
- Pra provocar você nunca tá triste, né?
- Eu não ofendi ele, ofendi? – Questionou Viviane.
- Eu acho que você ofendeu a sua própria tristeza. – Argumentou Stefani.
Viviane riu, se levantou e foi até a pia buscar um copo de água.
Estela foi até a cozinha fazer um suco e perguntou onde estava Ricardo. Quando Stefani contou que ele tinha ido ao banheiro, a mulher deixou a jarra plástica cair no chão e cobriu o rosto com as mãos.
Não foi necessária palavra alguma. Stefani se lembrou, a mãe havia deixado seu uniforme secando sobre o box, por ser o local menos público da casa.
A garota subiu as escadas correndo e, quando chegou à porta do banheiro, escutou Ricardo gemendo. Correndo o risco de se constranger, ela usou seu magnetismo para destrancar a porta e, quando entrou no banheiro, viu o rapaz caído no chão, de barriga para baixo, vomitando sangue.
Ela o virou de lado, se ajoelhou na frente dele, se transformando. Ela gritou:
- Sou eu! Eu sou a elétrica! Eu! Eu! Olha pra mim!
A expressão de agonia que o rapaz tinha no rosto diminuiu e ele, com alguma dificuldade, questionou o por que ele estava passando mal por ter descoberto.
Stefani explicou sobre o mecanismo de defesa, enquanto Estela pegava o uniforme e o tirava do banheiro.
Viviane chamou o resgate e se colocou do lado da amiga dizendo para ela voltar à forma civil, pois estava nua.
Stefani obedeceu e começou a chorar pedindo desculpas ao rapaz.
Ricardo foi retirado da casa e levado para o hospital municipal de São Nunca.
Depois de vários exames e uma cirurgia, os médicos não sabiam precisar se o rapaz teria alguma sequela, por causa do sangramento na cabeça.