Leidiane contou a descoberta para Mario, que contou para Vitório, que começou a buscar uma forma de forçar uma blitz na fabricante dos bichinhos de pelúcia.
Porém, essa blitz teria que ser feita por debaixo dos panos. Até onde se sabia, furto de energia vital não era crime. Podia se alegar roubo de sangue, mas ninguém tinha feito uma análise do recheio da pelúcia, para saber se aquele resíduo escuro realmente era sangue.
Vitório queria fazer essa investigação com muita cautela. Por Tatiane, eles descobriam onde ficavam os pés de algodão usados na fabricação dos bichinhos e queimavam tudo.
“Mas e se isso for um processo pós colheita?”, era o que perguntava Leidiane.
Se porventura a plantação de algodão fosse queimada sem ser a culpada, os trabalhadores que cuidavam dela, que também poderiam ser inocentes, seriam prejudicados.
A situação era extremamente delicada. Fazer algo era ruim, não fazer também era.
Stefani estava explodindo de raiva, pois tinha sido enganada e a mãe estava em uma SEMI-UTI por causa disso.
Otávio estava preocupado com a possibilidade de a filha fazer alguma besteira durante a madrugada, e pediu para que ela se deitasse com ele.
Mas Otávio se arrependeu desse pedido, pois Stefani não parava de se mexer, o impedindo de dormir.
No sábado, por volta das dez da manhã, Stefani e o pai voltaram para o hospital. Segundo os médicos, Estela estava reagindo bem à medicação.
Stefani pediu para ver a mãe, mas os médicos não deixaram, pois havia várias pessoas com pneumonia na SEMI-UTI e UTI.
O número de crianças ocupando os leitos era extremamente grande. Não só naquele hospital, mas também em outros ao redor da cidade.
A fabricante dos bichinhos, que se chamava Nunca + Brinquedos, era uma pequena empresa da cidade. Os produtos dela ainda não haviam se espalhado pelo país, exceto pelas unidades que haviam sido adquiridas como recompensa na campanha de financiamento coletivo da “Abraço Fofinho”.
Durante o sábado, Vitório usou seus contatos dentro da corporação para conseguir mais detalhes sobre a empresa.
Já no período da tarde, a avó de Stefani foi visitar a filha, mas também não recebeu autorização dos médicos para entrar na SEMI-UTI.
Marina, que morava em uma cidade vizinha, acabou passando a noite na casa de Stefani.
No domingo, os médicos permitiram que Estela fosse visitada. Stefani foi a primeira a entrar na SEMI-UTI e, chorando, falou para a mãe:
- Me desculpa… Foi culpa do gato de pelúcia… Aquilo é do mal.
Estela viu a cara de desespero da filha e simplesmente falou:
- Em casa você me explica com calma.
Mário e Tiago passaram o domingo procurando por imagens de satélite que mostrassem a plantação de algodão usada pela Nunca + Brinquedos. Eles tinham três coordenadas, as quais não sabiam dizer com precisão se eram locais usados pela empresa.
As imagens não ajudavam. Mesmo tendo sido atualizadas há poucos dias, o terreno e a plantação pareciam normais.
No final daquele domingo, Laura voltou para a chácara, pois precisava da ajuda dos animais de lá. Segundo ela, as aves da cidade não estavam colaborando como as do campo.
Tatiane e Stefani sugeriram que as suspeitas sobre a Nunca + Brinquedos fossem alertadas através do site de divulgação dos fatos por trás dos massacres.
Tiago não gostou da ideia. Até aquele momento, todas as acusações feitas através do site tinham provas. Se provas concretas não fossem encontradas, falar sobre o assunto poderia abalar a confiabilidade do site.
Stefani teve dificuldades para se concentrar nas aulas. A culpa e a sensação de impotência a estavam corroendo por dentro.
Ricardo e Viviane, que haviam percebido, tentavam consolar Stefani, mas a garota pouco prestava a atenção no que eles diziam ou faziam.
Em um certo momento, Viviane tentou beijar Ricardo, que se desvencilhou. Mesmo com isso, Stefani não esboçou nenhuma reação.
Stefani foi almoçar com o avô, que estava bastante mal-humorado.
Stefani, achando que Augusto estava preocupado com Estela, falou:
- Eu tô me sentindo mal por ter colocado a minha mãe nessa situação.
- A culpa não é sua, você foi enganada. E eu falei com os médicos, eles me disseram que sua mãe está reagindo extremamente bem. – Falou Augusto, tentando consolar a neta.
- Então você não tá assim por causa da minha mãe? – Questionou Stefani.
- É por causa da Pâmela… Ela nem falou comigo sobre comer essas frutas malucas. – Reclamou Augusto.
Stefani ainda não tinha conversado com o avô sobre a decisão de Pâmela. Ao que parecia, ele não havia gostado nada dela.
Tentando consolar o avô, Stefani falou:
- Ela vai demora pra entrar em combates. Os poderes deixam ela muito cansada.
- É, e você precisa ver como ela tá treinando duro pra resolver isso. Eu nunca vi tanta dedicação. – Contou Augusto.
O relato do avô deixou Stefani sem argumentos. Ela resolveu permanecer calada.
Ricardo tentou difundir o perigo das pelúcias da Nunca + Brinquedos por chats e fóruns da deep web. Mas a história parecia tão absurda que ninguém estava colocando fé no relato.
Leidiane pediu para que Stefani e o pai fossem jantar na casa dela. Otávio recusou, mas Mario e Leidiane passaram a insistir tanto que se tornou impossível recusar.
A casa de Leidiane era bem grande e ficava localizada em um bairro da periferia, que era vizinho à favela onde ela tinha passado a infância.
Durante o jantar, a campainha tocou e Vitório se juntou a eles. Ele trazia fotos do verdadeiro local do plantio do algodão. As fotos eram assustadoras. A imagem mostrava quatro pés de algodão que mais pareciam criaturas saídas de um livro de fantasia e terror.
As raízes brotava, da terra e sustentavam a planta como se fossem pernas. A parte branca, onde ficava o algodão propriamente dito, parecia ter um rosto com uma expressão maligna. Onde ficaria o bulbo da planta parecia existir uma boca com algo que lembrava dentes.
As imagens acabaram com o apetite de todos. Elas não eram asquerosas ou nojentas, mas o fato de aquelas criaturas existirem mostrava que o perigo tinha um caráter sobrenatural bem forte.
Otávio perguntou como Vitório havia obtido aquelas fotos. O homem explicou que um amigo que era sargento aposentado do exército morava ao lado daquela fazenda e havia tirado aquelas fotos há dois meses.
Vitório pegou uma cocha de frango, colocou em seu prato, e enquanto comia falou:
- Acho que é bom vocês irem se organizado. Acho que não dá para esperar uma prova que vai ser aceita para abrir uma acusação. O amigo que tirou as fotos está arranjando equipamento para aqueles que não têm poderes mágicos.
- Que tipo de equipamentos? – Questionou Otávio.
- Coletes à prova de balas, fuzis, pistolas, metralhadoras, granadas… Qualquer coisa que destrua essas plantas bizarras e proteja vocês. – Explicou Vitório.