Laura perguntou para Jessica onde ela tinha conseguido o lampião. A garotinha explicou:
- A mulher que fez o papai e a mamãe brigar me fez dormir. Quando acordei, tentei pegar o lampião pra levar pra casa, mas minha mão passava por dentro… Eu tentei tanto que eu tirei esse lampião de dentro do outro.
Laura ficou confusa. Aquele era um relato muito nebuloso. “Quem era essa mulher? Ela tinha uma casa? Objetos tinham alma?”, se perguntava Laura.
Jessica viu a estranha expressão no rosto de Laura e perguntou se tinha feito algo errado. Laura passou a mão na cabeça da criança dizendo que não, porém perguntou:
- Que mulher é essa que te fez dormir?
- É a mulher que tá morando na casa onde eu morava… Eu tenho raiva dela… Ela fez meus pais brigarem e roubou minha casa… – Falou Jessica, começando a chorar.
Laura fez carinho na cabeça da garota e perguntou se a tal mulher era estranha. Jessica respondeu:
- Todo mundo fica velho… Eu não fico velha… E essa mulher fica velha, fica nova, fica velha, depois fica nova outra vez!
Laura não gostou do relato. Primeiramente pela garota perceber que as pessoas ficam velhas e ela não. Isso sugeria que ela havia morrido há muito tempo.
E depois por existir uma mulher que rejuvenesce várias vezes, sem ninguém notar.
Laura pediu para Jessica levá-la para a casa onde a tal mulher morava. A criança relutou, porém depois de alguns carinhos feitos por Laura a garotinha cedeu.
Laura pegou Jessica no colo e montou no cavalo, que saiu galopando, seguindo as instruções da criança.
Não foram nem cinco minutos de cavalgada até que chegassem em frente à casa. Era um grande sobrado de madeira, com algo que lembrava um pequeno galpão à direita.
Laura sabia que os amigos já estavam em combate. Dali já era possível escutar os tiros e alguns gritos.
Laura desceu do cavalo e foi até a porteira que dava acesso ao quintal da casa, a abriu e disse ao cavalo que se algo desse errado ele deveria procurar os outros e levar Jessica até eles.
A garotinha não gostou de se separar de Laura, mas Laura explicou que aquele lugar era perigoso para uma criança. Ela beijou a mão da garota e se dirigiu até o galpão lateral.
Quando passou pela porteira, Laura sentiu algo como um choque percorrer seu corpo. Em seguida a atmosfera ficou extremamente pesada, dando muito trabalho para que ela respirasse.
Laura fez uma oração para espantar espíritos ruins, que havia aprendido com a mãe.
Não resolveu, mas amenizou a dificuldade de respirar.
Laura viu um carro parado do lado de fora do galpão e imaginou que veria outro dentro. Porém, ela se enganou. O lugar lembrava uma adega.
Haviam dez barris colocados em prateleiras que ficavam nas paredes e uma bancada com equipamentos de laboratório, como balança, tubos de ensaio e afins.
Laura pegou um dos tubos de ensaio e o lavou em uma pia que ficava do lado da bancada. Em seguida, abriu a torneira do barril mais próximo e encheu o vidro.
Ela cheirou. Quando o aroma ferroso de sangue lhe chegou às narinas, largou o tubo, que se estilhaçou no chão.
Laura passou a ver o que tinha em cada um dos barris e constatou que todos tinham sangue.
Ela começou a chorar, imaginando as atividades macabras que eram feitas com o sangue.
Laura deixou a torneira de todos os barris abertas para que o sangue se derramasse sobre o solo. Ela também encontrou um livro que ensinava a fazer poções, intitulado “Burlando A Natureza – O Poder do Sangue” e o queimou.
Laura saiu correndo do galpão e entrou na casa, sem prestar atenção em nada, apenas procurando alguém.
Ela ouviu barulhos vindos do andar de cima. Laura seguiu o barulho e se deparou com uma mulher loira, que estava de quatro sobre a cama, sendo penetrada por um homem que tinha músculos bem definidos.
Laura ignorou a situação e gritou:
- Bruxa! Seu livro e o sangue… eu destruí tudo!
O homem e a mulher, que só perceberam a presença de Laura após seu berro, pararam de se mexer e gemer.
A mulher falou com raiva na voz:
- Eu não te dei permissão para entrar! Gorda!
- Eu não sou um vampiro e você nem pode se atrever a chamar essa casa de sagrada. – Respondeu Laura.
- Você é uma daquelas que acha que transar é errado? – Questionou o homem.
Laura voltou a sentir o ar esmagando os pulmões e voltou a repetir a oração. A mulher loira percebeu que Laura balbuciava algo e se levantou da cama, caminhou até Laura e, quando ficou a dois passos de distância da garota, fez o braço ser envolvido por um brilho vermelho, esticou os dedos como se fossem uma faca e desferiu um golpe certeiro na garganta de Laura.
Quando viu o que tinha acontecido, o homem berrou:
- Pra que isso! E você fez isso com a mão?
- Perdeu… – Disse Laura antes de dar seu último suspiro.
A última palavra de Laura fez a mulher tremer de raiva. O homem começou a vestir as calças, dizendo:
- Eu não tenho nada a ver com isso! Eu não vou para a cadeia!
Quando o homem passou pela mulher loira, ela fez o brilho de seu braço virar uma lança e atravessou o coração do homem.
Ela se vestiu, tremendo, xingando e amaldiçoando. Só então ela percebeu que suas plantas estavam lutando e gritou:
- Vocês até podem derrotar as minhas plantinhas, mas eu vou pegar vocês depois! Feridos e cansados!
Então ela deixou a casa e viu um cavalo parado na porteira. Imaginando que era o cavalo da intrometida, correu até ele e o atravessou com uma lança, assim como tinha feito com o homem.
Jessica, que havia desmontado do cavalo quando ouviu Laura gritar, entrou na casa assim que a mulher loira saiu, sem chamar a atenção dela e sem perceber a morte do cavalo.
Quando a criança chegou ao andar de cima da casa, se deparou com a horrível cena e começou a chorar.
Laura se levantou de dentro do próprio corpo, falando:
- Você não me obedeceu, né?
- Fantasma!!! – Gritou a garotinha.