Estela apertava um pano contra o rosto da filha, na tentativa de diminuir o sangramento. Pâmela se mostrou uma motorista fantástica; ia cortando todos os carros que davam brecha para isso e não esbarrava em nenhum deles.
Stefani se perguntava como a mãe havia chegado à sala da diretora tão rápido; ainda por cima sem ter sido avisada. Mas as grandes responsáveos por essas respostas não virem eram a dor e o medo. A raiva de Viviane estava em segundo plano, ficar irritada só piorava a dor.
No hospital, a chegada de Stefani causou uma correria gigante. A quantidade de sangue na camisa da garota e no pano que a mãe usava fez os enfermeiros entrarem em desespero. Acabou que um rápido exame constatou que a garota já tinha perdido uma quantidade considerável de sangue. Os médicos resolveram operar às pressas para evitar mais problemas.
Stefani teve que colocar uma placa de platina no nariz, pois o osso tinha quebrado de uma maneira nada propícia a uma recuperação correta.
Quando foi levada para o quarto, a garota já estava acordada, mas se sentia uma bêbada, pois estava com a voz mole e tudo parecia rodar. Era a primeira vez que ela tomava uma anestesia. Essa sensação era muito estranha.
Estela não saiu do lado da filha em instante algum mas, estranhamente, o pai não estava por ali. O que fez Stefani questionar a mãe:
- Cadê o pai? Por que ele não tá aqui?
- Seu pai está na polícia abrindo um boletim de ocorrência contra Viviane. - Falou Estela calmamente.
Stefani achou um BO um pouco exagerado, mas pensou que poderia estar pensando isso por causa da anestesia e resolveu ficar quieta. Acabou dormindo.
Ela ficou acordando e dormindo. Em uma das vezes que acordou, viu o pai conversando com a mãe… e dormiu. Em outra vez que acordou, pensou que estava vendo os pais transando, mas dormiu sem saber o que realmente acontecia.
Quando ela acordou realmente, se sentindo livre do efeito da anestesia, pensou que estava mais dopada que nunca, pois viu a mulher azul conversando com a mãe. Ambas estavam sentadas no sofá do quarto, o que fez parecer uma conversa normal entre duas amigas. Mas a conversa não era uma conversa que duas amigas teriam sentadas em um sofá:
- Espero que nada aconteça, mas tente evitar. - Falou a mulher azul.
- Mas eu não tenho como fazer nada! Você precisa fazer algo! - Falava Estela exaltada, mas tentando falar baixo.
- Eu não posso fazer nada sem me revelar. E eu não vou me revelar. - Respondeu a mulher azul.
Então, quando Stefani engoliu em seco, a mulher com cara de boneca olhou para ela e falou:
- Parece que alguém estava fingindo que dormia…
Stefani ficou vermelha, se entregando. Mas a mulher azul ficou calada esperando a garota falar algo. Mas, como o silêncio persistiu, a guerreira da água foi obrigada a falar:
- Vou resumir. No quarto ao lado está internado um traficante de uma comunidade próxima. Ele diz que foi vítima de bala perdida… mas na verdade foi um ataque planejado por uma quadrilha rival. É provável que eles tentem terminar o serviço. Nenhuma de nos três pode ficar aqui sem chamar a atenção para nossas famílias. Então, estamos visitando todos os quartos pedindo para os pacientes pedirem alta ou transferência.
Se era verdade, Stefani não sabia. Porém, a cara da mãe deu forças às palavras da mulher azul.
Então, sem aviso, Stefani sentou um calor passar por sobre ela e a mulher vermelha aterrissou suavemente no chão, dizendo:
- O plano furou. Eles chegarão aqui em cinco minutos.
As duas foram para um canto e começaram a conversar aos sussurros.
Stefani percebeu que estava com fome, e notou uma fruta caída entre as pernas. A fruta era clara, mas no escuro não era possível perceber a cor corretamente. Ela pegou e como não achou maneira de descascar, começou a comer.
Quando ela terminou de comer o último pedaço, a mulher de azul a encarou com os olhos arregalados. Tremendo, ela se dirigiu à amiga:
- Por favor, me fala que sua bolsa ainda tá cheia…
A mulher vermelha colocou a mão dentro de uma pequena bolsa que ela trazia junto ao corpo, e disse:
- Por que eu ainda confio em zíper chinês de segunda…?
Estela, que estava com as mãos no rosto, não reparou no que estava acontecendo e ficou perdida. Stefani, que estava consciente, perguntou:
- Essa fruta não era da minha mãe?
- Que fruta? - Perguntou Estela.
- Uma das frutas que nos deu nossos poderes. - Falou a mulher vermelha.
Stefani e a mãe se olharam assustadas, mas foram ignoradas, pois as duas mulheres coloridas saíram correndo pela porta do quarto.
Estela se aproximou da filha e segurou a mão dela. Então após alguns minutos de silêncio, que mais pareceram horas, os cabelos e olhos de Stefani começaram a mudar de cor. O avental hospitalar que ela vestia sumiu, deixando-a nua.
Instantes depois, começaram a ouvir barulho de tiros, coisas quebrando, pessoas gritando e até explosões vindas do andar de baixo.
Estela tirou a blusa e enrolou na cabeça da filha, para esconder a mudança nos cabelos.
A barulheira não tinha fim, parecia que estavam em uma guerra. Algumas pessoas começaram a gritar que já tinha acabado, o que fez as coisas piorarem.
Antes parecia que as super mulheres estavam tentando defender o traficante, talvez para proteger os pacientes, o que fazia elas e aliados do homem lutarem juntos. Mas agora a história aparentava ser diferente, a impressão que se tinha era de uma briga de todos contra todos.
Estela e Stefani ficaram assustadas quando uma explosão fez tremer o prédio todo. Muitos homens começaram a xingar e amaldiçoar. Outros gritavam de dor, de uma maneira de desesperar qualquer um.
Então as coisas foram se acalmando. Muitos tiros foram dados; alguns aparentavam ter sido disparados entre amigos, para finalizar a agonia dos muitos feridos. Outros, na tentativa de matar os adversários. Mas ficou claro que as mulheres coloridas já tinham ido embora.
Médicos e enfermeiros corriam de quarto em quarto avaliando os pacientes, julgando quem teria que ser transferido e quem poderia terminar o tratamento em casa.
Stefani foi liberada para ir para casa. Quando ela e os pais saíram do quarto até o estacionamento viram paredes rachadas, manchas de sangue no chão e nas paredes, roupas rasgadas no chão e corpos cobertos com panos, além de outros já em sacos pretos e um ou outro descoberto.
Quando chegou em casa, Stefani foi até o quarto pegar um espelho para se olhar e perceber que seus cabelos, olhos e qualquer outro pelo do corpo tinham uma cor que aparentava estar entre o azul e o rosa. A pele também tinha uma tonalidade bem leve dessa mesma cor.
Stefani se achou um pouco mais musculosa, mas suas curvas não tinham aumentado. Ela ainda era mirradinha no que dizia respeito a seios e bumbum.
Ela foi tomar um banho para se lavar do hospital, o que a fez entender os poderes que tinha comido, pois a água causava uma sensação de choque toda vez que atingia sua pele.