Stefani ficou calada ao ver as duas abraçadas. Quando a mãe da garota percebeu a presença da filha, ela olhou para a menina, que viu lágrimas nos olhos da mãe. Pâmela, também chorando, olhou para Stefani.
Por dentro, Stefani suspirou aliviada. Seria demais para ela ver a mãe interessada em outra mulher, ainda mais depois de tudo.
Estela se aproximou da filha e falou:
- Você sempre se mete onde não deveria… Mas outra vez, você acertou. Pâmela e eu precisávamos conversar a sós.
Stefani sorriu e foi abraçada pela mãe. Pâmela se aproximou e colocando a mão no ombro da garota falou:
- Eu e sua mãe conversamos bastante e conseguimos chegar num consenso.
- Ela até me deu umas dicas. – Falou Estela ficando vermelha.
- Mãe, informação demais… – Falou Stefani, fazendo as outras duas rirem.
A garota contou sobre o que tinha acontecido quando voltava do cinema. Pâmela pediu desculpas por não tê-la trazido para casa. Estela falou que não era culpa dela e quis saber o que a filha achou da mulher vermelha:
- Sabe, eu achei ela bem tranquila, eu diria até zen. Eu não sou especialista, mas ela parece dominar os poderes muito bem. – Falou Stefani.
Nesse momento o pai de Stefani chegou e ficou meio assustado ao ver Pâmela com a esposa. Estela colocou o marido a par de tudo, incluindo o relato da filha sobre a mulher vermelha.
O homem perdeu a calma e pegou o telefone, para ligar para a polícia. Mas a filha o parou, lembrando que ela tinha sido salva. Mas não houve como acalmá-lo:
- Mas você só ficou na mira de uma arma por causa dessas mulheres. Se ela não estivesse atrás dele…
- Ela podia ter sido morta ou estuprada. Isso tá acontecendo muito ultimamente. – Falou Estela.
O homem puxou uma cadeira e se sentou, sem ter como rebater.
Stefani comentou que viu, em um jornal que o avô lia, que o povo estava abraçando as três. Pâmela completou, dizendo que viu outra reportagem, que dizia que a confiança na polícia estava caindo.
Todos sabiam que era uma verdade. A população vivia uma crise de segurança, onde as pessoas que tinham medo eram os cidadãos de bem, não os bandidos.
Stefani estava tendo dificuldades para dormir, não só pelos acontecimentos do dia, mas também por que os gemidos dos pais estavam mais altos do que o normal. Ela sabia que isso tinha a ver com as dicas da Pâmela.
Ela até pensou em se masturbar mas o fato do som ser produzido pelos pais quebrava seu ânimo.
Sem saber muito bem como, ela acordou com o celular despertando.
Depois de tomar banho desceu até a cozinha, encontrou os pais sorridentes sentados à mesa e falou:
- Bom dia, coelhos!
O pai da garota quase cuspiu o leite na mesa e a mãe respondeu:
- Coelhos? Mas nem foi tão rápido assim…
- Querida, isso é coisa de falar para a nossa filha? – Exclamou o marido.
- Tá bom, da próxima vez, eu não falo na sua frente. – Falou Estela rindo.
O homem engoliu o leite de uma única vez e foi até o banheiro, dizendo para Stefani comer rápido que ele a deixaria na escola.
A garota teve muitas dificuldades para tomar café, pois toda vez que os olhares dela da mãe se cruzavam, ambas caiam no riso e tinham dificuldade de parar.
O resto da semana correu sem grandes transtornos, até o domingo, que era o dia internacional das mulheres.
As emissoras de TV, sites, rádios, jornais, faziam menção a várias mulheres importantes na história da humanidade, mas as Super Mulheres eram um assunto que tomava a maior parte das discussões.
As redes sociais estavam fervendo. Pessoas se manifestavam a favor as Super Mulheres e eram fortemente repreendidas não apenas por machistas, que aliás eram poucos, mas principalmente por pessoas contrárias à policia e às instituições de segurança.
Existia um grande número de pessoas que acreditavam que essas três mulheres eram da polícia e que toda essa perseguição não passava de teatro.
No fim daquele domingo, 8, a mãe de Stefani foi até o quarto da filha e teve uma longa conversa com a garota, tentando explicar, mais uma vez, por que era tão importante que ela passasse a frequentar um ginecologista.
Sem saber exatamente por que, Estela ficou surpresa quando a filha concordou e ainda mais por que ela aceitou ir no médico da mãe.
Então, algumas semanas depois, no dia 8 de abril, Stefani estava na sala de espera do médico, acompanhada da mãe. Ela estava bastante apreensiva. Afinal, teria que se mostrar para um homem.
Quando o Dr. Rubens chamou, a garota entrou com a mãe a empurrando pelas costas e se sentou.
O homem percebeu o nervosismo da garota e falou:
- Relaxa, você não tem nada que eu já não tenha visto aos montes.
Se a intenção era acalmar, definitivamente não havia funcionado. Stefani havia ficado mais nervosa ainda. O nervosismo dela era tanto que o médico estava tendo dificuldades para fazer o exame de toque, já que ela não conseguia relaxar.
O doutor disse que, se ele forçasse a barra, poderia machucar a garota e traumatizá-la. Ele sugeriu uma médica, entregando o contato de uma conhecida, que curiosamente era Jessica, a médica de Pâmela.
Estela ligou marcando a consulta de Stefani já no dia seguinte e pediu desculpas à filha pela situação. A garota disse que era para esquecer, pois agora ela estava mais tranquila.
À noite, Augusto e Pâmela foram jantar na casa de Stefani. Quando Pâmela ouviu Estela contar sobre a reação de Stefani, ela fez uma cara de pena mas, ao mesmo tempo, tinha dificuldades para conter o riso.
No dia seguinte, na escola, agora que o nervosismo do fim das férias havia passado, Viviane estava mais amigável e menos magra, o que dava à garota um aspecto mais saudável. Ela não parecia mais com ossos ensacados em pele.
Durante a aula de educação física, Stefani acabou torcendo o pé durante uma partida de handebol entre as garotas e foi se sentar em um banco na lateral da quadra.
Ela se sentou do lado de Ricardo, um rapaz por quem ela tinha simpatia. Afinal, ele era tranquilo, quieto e calado, diferente da maioria dos garotos da sala, que eram barulhentos e contavam vantagem demais.
Ricardo não era um cara magro. Estava pouca coisa acima do peso e não era chegado em esportes. Ele era pouca coisa mais alto que Stefani e tinha cabelos negro, curtos, bem penteados.
Ele estava lendo um livro bem grosso. Stefani perguntou que livro era e ele respondeu que o nome era Batalhas dos Castelos.
Stefani já tinha ouvido falar no livro, mas nunca tinha tido a oportunidade de vê-lo. Pelas paginas que espiou, achou interessante e perguntou:
- Ei Ricardo, será que depois que você terminar de ler, você me empresta?
- Desculpa, mas eu não posso emprestar um livro da biblioteca da escola. – Respondeu o rapaz dando uma risada tímida.
- Assim fica mais fácil! – Falou Stefani.
- Você realmente tem uma perna no mundo nerd. Para de lutar e vem pro lado fantástico da força! – Falou Ricardo animado.
Stefani sabia que o rapaz era nerd e esse era um dos motivos que fazia os outros garotos tirarem o sarro dele.
Quando Viviane viu os dois conversando ela gritou:
- Stefani! Tá fazendo caridade?
Stefani fechou a cara e perguntou:
- Como assim?
- Ué, tá conversando com esse babaca… Vai doar um rim que é menos ruim. – Falou Viviane, fazendo todos rirem.
Stefani ficou brava, olhou para o lado e viu Ricardo ficar bravo, contar até 10 e depois voltar a ler.
Ricardo e Stefani estavam voltando para a sala juntos, quando foram surpreendidos por Viviane que atacou:
- E aí, Ricardo, o que você pensa em conquistar lendo esse livro? Vai fazer um castelo de cartas?
As pessoas em volta riram, Ricardo permaneceu calado e Stefani mandou Viviane parar, o que só piorou as coisas:
- Por que você tá defendendo ele?
- Ele não fez nada pra você ficar atacando ele assim! – Reclamou Stefani.
- Ele é um bobão que só fica no canto dele, lendo, escrevendo e desenhando! Pra que defende isso? – Perguntou Viviane apontando para Ricardo.
O rapaz suspirou profundamente e falou calmamente:
- Realmente Viviane, se eu sou tão inútil assim para você, por que você fica perdendo seu tempo falando sobre mim?
A resposta de Ricardo fez todos pararem e ficarem olhando calados. Viviane ficou sem resposta e Stefani engatou uma ajuda a Ricardo:
- Eu acho que sei. Minha mãe fala que quem desdenha quer comprar.
Todos gritaram “Orra!” e Viviane virou motivo de chacota o resto da manhã.
Na hora da saída, quando Stefani estava indo para o portão, ela sentiu um cutucão no ombro. Quando se virou, levou um murro na cara e caiu. Quando ela teve condições de olhar, viu, de pé na frente dela, Viviane, que disse:
- Vaca! Como você pôde me humilhar daquela forma?
- E por que você estava humilhando o Ricardo? – Perguntou Stefani.
- Eu não tava humilhando ele! Eu só estava dando o que ele merecia! – Gritou Viviane.
- Então, eu também não te humilhei, só dei o que você merecia! – Retrucou Stefani se levantando.
Viviane deu outro soco no rosto da garota, só que agora no nariz, quebrando-o e fazendo sangrar.
Quando Viviane ia dar outro soco, foi contida por Ricardo, que torceu o braço dela e a derrubou com um golpe de judô.
Como era de se esperar, todos que estavam presentes não paravam de gritar “Briga! Briga! Briga!”, o que atraiu a direção da escola rapidamente.
Quando a diretora viu Stefani com o rosto e a camisa cobertas de sangue, e Viviane no chão, ela gritou:
- Ricardo! O que você esta fazendo?
- Protegendo a Stefani. – Respondeu o rapaz.
Uma das coordenadoras voltou para a direção, enquanto a diretora gritava com todos.
A coordenadora voltou, puxou a diretora para um canto e mostrou algo em um tablet. Quando terminou de assistir a mulher chamou Ricardo, Stefani e Viviane para a diretoria.
Quando chegaram lá, a diretora pegou o telefone da mãe de Stefani. Ela mal havia terminado de discar quando Estela entrou desesperada na sala, seguida por Pâmela.
A diretora ficou aliviada e falou que elas podiam levar a garota para o hospital, pois o problema real era com Viviane.