Enquanto caminhavam, Otávio e Augusto iam elogiando a propriedade. Era um lugar muito bem cuidado. A grama era baixa e de um verde bem vivo. Os cercados dos animais não tinham nenhum tipo de portão e alguns dos bichos até pareciam patrulhar a chácara.
Augusto reclamou por não ter visto nenhum campinho de futebol por ali, dizendo que era um desperdício de terreno não ter um lugar para se jogar bola.
Mesmo sem se importar muito com isso, Otávio teve que concordar que o terreno tinha muito espaço não construído ou aproveitado.
Depois de muito procurarem, encontraram o caseiro sentado sob uma árvore, perto de um lago. O homem estava com uma garrafa de pinga de alambique já pela metade. Ele também estava chorando. Secava as lágrimas e dava uma longa golada direto no gargalo.
Augusto se apressou. Antes que o homem pudesse beber mais uma vez, segurou a garrafa falando:
- Ô, amigo! Vai com calma!
Otávio se colocou do lado do sogro e perguntou se o homem estava bem. Depois de soltar a garrafa no chão o caseiro olhou para o céu e falou, rouco:
- Eu sou um bosta… Vi minha mulher morrer e agora vou ver minha filha. E eu só posso fica olhando…
Augusto e Otávio se sentaram cada um de um dos lados do homem, que perguntou para Augusto quem era Otávio. Augusto explicou que era o pai de Stefani. O caseiro começou a chorar e desabafou:
- A menina é nova. Você o pai que deveria proteger, só vai ficar olhando… Aí um dia vão bater na sua porta e vão colocar o corpo da sua filha no seus braços… E, mais uma vez, você não vai poder fazer nada.
Otávio achou a fala meio desconexa, mas não parecia história de bêbado. Augusto. que tentava pensar em algo, se surpreendeu quando o genro pediu mais detalhes ao homem, que continuou:
- Sua menina não nasceu com isso, ela comeu isso, mas agora dá no mesmo… Ela vai morrer um dia e vai ser antes de você…
- Fala mais sobre a Laura. – Sugeriu Augusto, tentando dar um rumo menos medonho a conversa.
- A mãe era assim, ela sabia das coisas… A Laurinha também sabe… E é igual à mãe, não vai mudar as coisas, ela vai morrer.
Otávio já estava muito nervoso, mas Augusto havia se irritado. O velho pegou o caseiro, colocou nas costas e, antes que Otávio pudesse pará-lo, arremessou o homem no lago.
Em instantes, Otávio estava apenas de cueca pulando na água para resgatar o caseiro.
Assim que deixou o homem deitado no chão, Otávio se aproximou do sogro, dando bronca:
- O senhor ficou maluco! Jogar um bêbado assim no rio!
- Isso é um lago. Água fria é boa pra curar cachaça. – Respondeu Augusto, rindo.
Os dois deixaram o homem deitado se recuperando. Alguns minutos depois, aparentando estar melhor, o caseiro falou:
- A Laura vive falando pra eu largar essa porra… Mas é duro.
- O que é duro? – Questionou Augusto.
- Minha Laura é igual à mãe, ela é uma dessas videntes, que vê o futuro. Ela me disse que sabe quando e como vai morrer. – Explicou o homem.
Augusto, que sabia que o termo correto era clarividente, ficou meio preocupado mas, outra vez, Otávio foi mais rápido:
- E o que isso tem a ver com minha filha?
- Quando a mestra dos raios aparecer, faltará pouco para que eu me junte a mamãe. Foi o que ela me disse. – Contou o homem chorando e procurando a garrafa.
Otávio deitou na grama e ficou encarando o céu. As nuvens pareciam tão ameaçadoras quanto as coisas que o pobre homem contava.
Augusto começou a chorar, também se deitando, mas ao invés de encarar o céu, cobriu os olhos com o braço.
Os três acabaram dormindo. Acordando um tempo depois, com o céu dando sinais de chuva.
O caseiro estava sentado, vendo um cavalo empurrar a garrafa de bebida até o lago, mas um cachorro o impediu, pegando a garrafa e levando para longe.
Otávio ajudou o caseiro a se levantar e os três voltaram para a casa da chácara.
Pâmela estava do lado de fora encarando o céu. Quando viu o namorado, correu até ele, o abraçou, puxou para um canto e falou:
- A Laura me assusta! Ela me falou que sabe quando vai morrer. E falou que tem sangue no futuro da Stefani e das outras.
- O pai dela tava enchendo a cara por causa disso. – Falou Augusto, contando o ocorrido.
Pâmela ficou pensando como devia ser duro para o homem saber que sua filha iria morrer logo. E como devia ser duro para Augusto e Otávio saber que Stefani ter comido aquela fruta só confirmava esse trágico destino.
Pamela encontrou uma oportunidade e contou para Estela, que ficou extremamente deprimida e procurou Jessica e as outras super mulheres.
Leidiane, Tatiane e Jessica estavam em um terraço no fundo da casa, brincando com os elementos que controlavam. Estela contou tudo o que Pâmela havia dito. Leidiane, que mantinha as palavras “Mahou Tias” escritas em fogo no ar, falou:
- Eu já sei de tudo isso. Eu disse que cuidaria do pai de Laura, se ela não escondesse nada de mim.
- A Leidi não fala nada pra mim… Eu fico de mãos atadas. – Reclamou Jessica.
- Eu acho que precisamos saber de tudo, essa não pode ser toda a verdade. – Sugeriu Tatiane.
- Gente, me deixem resolver com a Laura. Só consigo que ela me fale as coisas porque prometi dar abrigo ao pai dela. – Explicou Leidiane.
Jessica e Tatiane deram de ombros, pois sabiam que Leidi não era uma pessoa com quem se podia negociar facilmente.
Enquanto Estela e as três conversavam, Pâmela foi até o quarto onde Stefani dormia. Quando abriu a porta, viu a garota dormindo, mas com a aparência normal.
Pâmela a acordou e perguntou como ela tinha feito aquilo. Stefani não entendeu o que Pâmela perguntava e se levantou para ir ao banheiro.
Quando viu os cabelos na cor normal, Stefani ficou muito feliz e saiu correndo para contar a Laura, esquecendo-se de estar seminua.
Pâmela a agarrou e puxou de volta para o quarto. Depois que se vestiu, a garota foi procurar Laura junto de Pâmela.
Quando chegaram à varanda, uma chuva forte começou a cair, fazendo as duas desistirem e ficarem sentadas observando.
Após conversar com as três mulheres mágicas, Estela foi para o quarto onde estava acomodada e encontrou o marido deitado. Os dois ficaram conversando, imaginando qual seria o futuro de Stefani e se ela teria um futuro duradouro.