Stefani acordou com uma barulheira gigante. As luzes da casa estavam acessas. O radinho do pai de Pâmela estava no último volume.
Estela e a mãe de Pâmela estavam sentadas no sofá, rezando e chorando. Tatiane, que não estava mais transformada, estava à mesa comendo uma cumbuca de alguma coisa e bebendo um suco vermelho.
Do lado de fora, além de um helicóptero que estava bem baixo, era possível ouvir policiais falando nervosamente em seus rádio-comunicadores, portas de viaturas batendo, moradores discutindo com os policiais, enfim, uma confusão.
Jessica, também em sua aparência tradicional, viu a cara de susto de Stefani e falou:
- Demorou para acordar, mesmo com essa barulheira, mas fica calma.
- E esse helicóptero? - Questionou Stefani.
- A polícia tá trazendo o cerco para o bairro. As coisas deram uma piorada no presídio. E, antes que eu esqueça, se destransforma.
Stefani obedeceu e começou a prestar a atenção no rádio:
- E a situação no presídio da cidade de São Nunca não para de piorar. Depois que as Supermulheres fugiram da penitenciária, os presos e os soldados do batalhão de choque entraram em confronto, ainda nos corredores do prédio. A polícia ainda não divulgou o número de mortos e feridos, mas ao que se sabe eles existem. – Dizia o locutor tentando esconder a preocupação.
Stefani ia falar algo, mas Jessica fez sinal para que ela ficasse quieta, para continuarem escutando o rádio:
- As informações mais atualizadas, dão conta que pelo menos duzentos detentos teriam fugido do presidio.
Stefani percebeu que precisava ir ao banheiro, já que desde o momento em que tinha saído de casa não tinha urinado e isso já tinha quase doze horas.
Como o banheiro ficava do lado de fora da construção, ninguém queria que ela saísse da casa, então ela recebeu uma garrafa pet vazia e a promessa de que nenhum dos homens apareceria ali, pois eles estavam na frente da casa, prestando atenção na movimentação da polícia.
Stefani reclamou dizendo que não era um menino. Jessica mandou ela parar de frescura e explicou que a garrafa estava limpa.
Apesar da situação constrangedora, a garota conseguiu se aliviar no frasco.
Jessica a chamou até a mesa e a fez comer um pouco de comida. Na tigela que ela havia recebido havia arroz, feijão e carne. Na tigela de Tatiane, porém, havia arroz, muito feijão e carne.
Stefani falou que não sabia que Tatiane gostava tanto assim de feijão. A mulher respondeu que não gostava.
Stefani estranhou e Tatiane explicou que estava com anemia. Jessica, sem esperar Stefani reagir, explicou:
- Essa maluca não me falou que os exames de sangue dela tinham dado anemia! Por isso ela desmaiou.
Stefani comia sua comida enquanto Tatiane fazia um grande esforço para empurrar os últimos grãos de feijão para dentro da boca.
Pamela e Leidiane desceram as escadas e se juntaram às mulheres.
Pamela contou que tinha feito um trabalho razoável com os pontos no braço de Leidiane. Jessica conferiu e ficou satisfeita.
Os homens voltaram para dentro da casa e disseram que provavelmente sair dali seria um problema. Os policiais estavam dizendo para alguns moradores que ninguém entraria ou sairia dali.
Segundo os relatos dos homens, a polícia estava certa de que as Supermulheres ainda estavam por ali. Os soldados pareciam acreditar que duas das mulheres estavam feridas. O que no fim não era mentira.
Pâmela insistiu para que os pais fossem deitar, mas eles não queriam. Estela e Jessica se juntaram a Pâmela e convenceram os dois.
Pâmela subiu para ajudar os pais, que disseram para todos ficarem a vontade.
Não demorou muito e a polícia começou a bater de casa em casa, para fazer uma revista.
Quando perceberam que isso acontecia, Augusto e Otávio pediram os comunicadores, mas foram lembrados por Leidiane que eles estavam escondidos junto com as roupas e os cabelos que mudavam de cor.
Otávio deu um suspiro de alívio tão forte que o fez arrepiar, arrancando risos dos que estavam no cômodo.
Não demorou muito para que os policiais chegassem até a casa dos país de Pamela. E, para surpresa e desespero de todos, o homem que conduzia as inspeções era justamente o policial que esteve com as Supermulheres na porta da penitenciaria.
Além do comandante, mais quatro policiais entraram na casa. Dois abriram a porta dos fundos e começaram a inspecionar a mata atrás da casa. Outro subiu com Estela para ver o andar de cima, enquanto o comandante e outro soldado faziam perguntas.
Eles perguntavam desde quando todas aquelas pessoas estavam ali. Devidamente instruídos por Leidiane, Jessica e Tatiane, todos deram praticamente a mesma versão da história, com mudanças leves nas noções de tempo e nas palavras, porém consistência na descrição dos fatos.
A história combinada era de que haveria um jantar de apresentação dos pais de Pâmela e Augusto. E que todos tinham chegado próximo do momento em que a rebelião estourou e as Supermulheres entraram no presidio.
Pela reação do comandante, a história batia com o que os vizinhos diziam.
O comandante passou a interrogar a respeito dos moradores vizinhos, mas apenas Pâmela e os pais responderam. Os outros disseram que, por causa da rebelião, não tinham ficado fora da casa.
Os homens que estavam inspecionando o fundo da casa disseram que encontraram algumas marcas de passos, mas que elas não chegavam até a porta e em alguns pontos se misturavam com calçados tradicionais, que iam e voltavam.
O comandante perguntou se aparentavam ser as botas das Supermulheres e os policiais responderam que as pegadas que sumiam provavelmente eram.
Depois de inspecionar o local por conta própria, o comandante chamou a policia científica, que tirou fotos do local, registrou os solados de todos os calçados da residência e foi embora.
Quando a policia saiu da casa, todos se sentaram onde estavam, não importando se era o chão ou uma cadeira.
Stefani perguntou sobre as pegadas e Tatiane explicou que tinham dado uma mexida ali, mas que aparentava não ter funcionado tão bem.
Leidiane falou que talvez fosse melhor, já que se não tivessem pista alguma no único local com uma porta dos fundos podia chamar mais a atenção da polícia do que pistas inconsistentes.
Jessica e Tatiane concordaram com o raciocínio de Leidiane e ficaram mais tranquilas. Essa tranquilidade foi se espalhando por todos.
Por volta das nove da manhã daquele sábado, uma coletiva de imprensa foi montada e transmitida, diretamente da rua onde estavam.
Todas as Supermulheres, os pais de Pâmela, Augusto e os pais de Stefani estavam na frente da TV para ver o que seria dito.
O comandante dizia que tinham algumas pistas sobre o paradeiro das Supermulheres, mas nada muito consistente. Ele quase não tocava no assunto da rebelião.
Então quando a sessão de perguntas da mídia foi aberta, uma repórter perguntou:
- Comandante, o senhor só fala das Supermulheres, mas o fato é que duzentos detentos fugiram. O que a polícia está fazendo quanto a isso?
- Estamos no encalço dos fugitivos. Próxima pergunta. – Respondeu o comandante irritado.
Um repórter de uma rádio questionou:
- Senhor comandante, o senhor está pintando as Supermulheres com vilãs, nas a grande verdade é que elas têm sido mais efetivas que a polícia. Eu tive informações que essa rebelião era uma armadilha para elas. Isso procede?
O comandante ficou vermelho de raiva e falou, sem conseguir manter a calma:
- Isso é uma calúnia contra a corporação! Fazer justiça com as próprias mãos é crime e quem diz o contrário está apoiando o crime!
Outro jornalista se aproximou e questionou:
- Por que apenas para resolver esta crise a polícia não faz uma parceria com as Supermulheres?
- Elas são criminosas! Próxima e última pergunta! – Gritou o comandante, ficando da cor de um tomate e tremendo descontroladamente.
Uma jornalista pegou o microfone e questionou:
- O senhor disse que tem algumas pistas sobre quem são essas Supermulheres. Vocês estão levando em conta que talvez elas possam se transformar?
Quando as palavras “se transformar” chegaram aos ouvidos do comandante, ele ficou com uma expressão de quem tinha entendido algo. Mas essa expressão de satisfação logo foi substituída por uma de dor e agonia, enquanto o comandante caía no chão.
Socorristas que estavam no local se amontoaram sobre o comandante, fazendo massagem cardíaca e o que podiam.
O comandante foi movido para o hospital, mas já chegou lá morto.