A primeira atitude do novo comandante foi religar os serviços de telefonia que tinham sido desligados.
Um pente-fino na mata, nas proximidades do presídio, não foi capaz de encontrar os detentos fugitivos, apenas algumas pistas que já haviam se tornado bastante frias.
O nome do novo comandante era Marcos Vitório. Ele se mostrou mais humano e empenhado em tentar resolver os problemas que alguns policiais tinham criado com os moradores.
Vitório foi de casa em casa, perguntando se os moradores precisavam de alguma coisa ou tinham alguma denúncia, principalmente de abuso de autoridade.
O cerco havia sido afrouxado e o raio dos bloqueios expandido.
As chacinas deram uma diminuída no sábado a tarde, praticamente parando. Mas ninguém sabia dizer se isso era um bom sinal.
Marcos permitiu que Augusto levasse o sogro para o hospital onde a sogra estava internada. Mas obrigou Estela, Otávio, Stefani e as outras a ficarem na casa.
Leidiane não achou aquilo um bom sinal e, junto de Tatiane e Jessica, começou a arquitetar uma fuga para o caso de algo sair do controle.
Por volta das 18 horas, o comandante Vitório bateu na porta e perguntou se podia entrar.
Otávio abriu a porta e o homem entrou. A primeira coisa que ele pediu foi um copo de água gelada.
Depois que bebeu, ele se sentou em uma das cadeiras da mesa e ficou encarando o chão, enquanto falava:
- Tem uns boatos muito ruins de que o governador estaria envolvido com todas essas mortes. Existe a possibilidade de tudo isso ter sido orquestrado para atrair e capturar as mulheres mágicas.
Todos acharam estranho o comportamento do homem, principalmente por que ele evitava olhar para os seis que estavam na casa.
Como ninguém falou nada, ele continuou conversando com o chão:
- Parece que ninguém entendeu o motivo da morte daquele comandante… Parece que ninguém levou a pergunta da repórter em consideração… Será que eu fui o único?
O ar dentro da casa pareceu ter ficado mais pesado, mas Leidiane resolveu arriscar tudo. Ela se colocou na frente do policial e se transformou, o obrigando a olhar a transformação.
O homem fez uma careta de dor, mas quando a transformação começou a dor passou.
Leidiane e Marcos ficaram se encarando. Então o homem olhou na direção de Stefani e voltou a fazer careta de dor, Stefani ficou desesperada, falou que ela era a mulher dos raios.
A dor de cabeça do homem desapareceu sem que ela se transformasse.
Tatiane e Jessica se colocaram ao lado de Leidiane, o que fez o homem voltar a sentir dor. Tatiane disse que ela controlava a água, mas Jessica ficou quieta.
A dor de cabeça do homem diminuiu, mas não cessou até que Jessica também contasse seu segredo.
O homem estava ofegante, mas com uma cara de alívio que Jessica comparou à de uma mulher após a conclusão de um parto normal.
Mesmo desnorteado, Vitório caiu no riso, junto com todos os outros.
O homem pediu mais água e mandou Leidiane voltar ao normal. Em seguida, ele se ajeitou na cadeira e começou a falar, olhando para cada uma delas:
- Eu tenho provas de que tem a mão de políticos nessa tragédia toda… Mas eu não posso revelá-las. Eu tenho que seguir a lei, vocês não.
- O que você quer dizer? – Questionou Jessica.
- Eu não posso revelar imagens e áudios que obtive sem uma ordem judicial. Já vocês podem. – Falou o homem retirando um cartão de memoria do bolso e entregando para Jessica.
Tatiane encarou o homem e o questionou:
- Quem garante que esse cartão não vai hackear nossos computadores para revelar nossa localização?
- Usem uma máquina que não tenha acesso à internet, simples. – Respondeu Marcos dando de ombros.
Tatiane ficou sem jeito. Vitório se levantou e, antes de sair, falou:
- Aí também tem arquivos que mostram lugares para vocês cobrirem.
Então ele abriu a porta e voltou para a rua.
No domingo pela manhã, a polícia estava anunciando o fim do cerco, com a prisão de quarenta dos duzentos fugitivos.
Leidiane achou prudente que eles se separassem. Leidiane chamou um carro da Urban para ir para casa. Tatiane iria com ela. Jessica iria com o Stefani e os pais.
Jessica foi para a casa de Stefani. Quando chegaram lá, Otávio foi até o quintal e, depois de cerca de dez minutos, voltou trazendo um notebook velho e empoeirado.
Ele passou um pano na máquina, ligou-a na tomada e a ligou dizendo:
- A placa wireless dessa máquina queimou! Eu pretendia usá-la como um NAS, mas olha só… vamos ver os podres dos políticos.
Stefani sorriu, se sentindo orgulhosa pelo pai. Ela e a mãe sempre reclamaram por que o pai guardava coisas quebradas, mas agora isso tinha se mostrado útil.
Ele colocou o cartão em um leitor de cartões de memória externo. A máquina estava tão empoeirada que ele achou que o leitor acoplado poderia danificar o cartão.
O computador já não era tão moderno e demorou para ficar pronto para uso. O pai de Stefani começou a navegar pelas pastas do cartão, encontrando vários arquivos de áudio, alguns vídeos, fotos de documentos e arquivos de texto que tinham endereços de pontos de encontro.
Otávio começou a olhar as datas de criação dos arquivos de áudio e encontrou um, que era curto, mas tinha a data de pouco antes do início das chacinas.
Ele reproduziu o arquivo e todos se assustaram quando ouviram as vozes do governador, do presidente e de uma mulher que não sabiam quem era:
- Vítor, já ajeitei tudo. Elas parecem ser de São Nunca, já organizei um pessoal lá. – Disse o governador.
- Então comecem isso logo, mas garantam que elas sejam pegas. Se não forem, tamos ferrados. – Respondeu o presidente.
- Já estou passando a ordem… Elas vão ter que aparecer… O cheiro do sangue dos inocentes vai atrair aquelas intrometidas. – Falou a mulher desconhecida.
- Quando vocês pegarem elas, o que vão fazer? – Perguntou o presidente.
- Picar e deixar que os cães se livrem dos restos. – Falou a mulher.
- A única incerteza nesse plano é a participação da imprensa. – Falou o governador.
- Se eles incomodarem, ameaça parar de anunciar com quem for enxerido… Você vai ver como ficam quietos. – Sugeriu o presidente.
- Sim, temos essa arma. – Falou o governador no momento em que o arquivo acabou.
Estela ficou horrorizada lamentando por ter votado naquelas pessoas. Jessica, também irritada, dizia que agora que sabiam da verdade, não podiam ficar quietos, por todos os inocentes mortos.
Otávio começou a pensar em formas de como espalhar aquela áudio anonimamente e começou a buscar notícias sobre vazamento de dados para procurar um elo, a pista de alguém que pudesse ajudar.
Stefani começou a tentar levitar algumas latas de atum e sardinha, usando o seu poder magnético.
Jessica pegou o carro do pai de Stefani emprestado e foi para a casa de Leidiane, pois não queria falar sobre aquilo por meios eletrônicos.