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004 - Incertezas

24/04/2024
Por Danilo Sanches Ferrari

Depois que a mulher de azul saiu da casa de Stefani, os olhares de todos se voltaram para Augusto. Todos haviam achado muito estranha a atitude dele de ajudar a estranha mulher.

O pai de Stefani encarou o sogro e perguntou por que ajudar aquela mulher. Augusto respondeu apontando para Stefani, que estava deitada no colo da mãe, espirando e inspirando o ar com muita força.

Pâmela, que estava sentada na cama ao lado da mãe de Stefani, perguntou para o namorado se ele conhecia aquela mulher. Ele calmamente respondeu que não, mas que apoiava o fato de ela estar atrás de ladrões, por isso tinha dito para ela só tapar a boca de uma pessoa. Todos pensaram um pouco e viram sentido naquela explicação.

A mãe da garota pediu para o marido pegar as chaves de carro, para levarem a filha ao médico, mas ele se recusou:

- Desculpe querida, mas… A gente não sabe nada sobre aquela mulher, e se ela está nos vigiando? Ela disse ter companheiras. E além disso, elas estavam atrás de um caminhão que estava com drogas, se elas sabiam disso, do que mais elas podem saber?

Estela, fechou a cara, mais para o fato de o marido estar certo, do que para a recusa em levar a filha para o médico.

Pâmela ficou vermelha, e sem olhar para ninguém, falou:

- Bom… Minha médica é boa em guardar segredos… Ela é gineco, mas antes de se especializar, ela aprendeu um pouco de tudo, eu acho.

- Então liga para ela! – Exclamou Estela.

Pâmela foi pega desprevenida, pois não esperava tal reação. Então, ela pegou o celular, discou, colocou no viva-voz e esperou, até:

- Fala aí, Pâmela! Tudo certo? – Gritou uma voz bastante jovial e animada de mulher.

- Doutora, boa tarde… – Tentou falar Pamela.

- Doutora o cacete, eu não tenho doutorado, então para de frescura! – Reclamou a mulher do outro lado da linha.

Stefani esboçou um sorriso, mas acabou tossindo muito por causa disso:

- O Pamela, acho que o pulmão de alguém foi parar longe! – Falou a médica.

- Jessica, é a neta do meu namorado, ela precisa de ajuda. – Explicou Pamela.

- Ficou maluca, não é dessa área que eu cuido!

- Reclamou a médica.

- Na verdade ela precisa de sigilo. – Explicou Pâmela.

- Meio difícil hoje em dia, nem se ela morasse em uma caverna. – Falou a médica dando risadinhas.

Augusto se aproximou do telefone e falou direto e reto:

- Apareceu uma mulher que fez uma bola de água na cabeça da minha neta, ela ficou sem respirar, e agora estamos com receio de levar ela em um hospital, por que não sabemos quem está nos observando.

A mulher começou a balbuciar algo ininteligível, mas quando ela resolveu falar foi eficaz:

- Então isso é verdade? Não é viagem de maconheiro? Sendo assim, façam ela tomar muita água para lubrificar a garganta. Mel pode ajudar. Se ela chegou a desmaiar, é bom procurar um médico para fazer um exame na cabeça. Se não, e ela tiver dor de cabeça, deem um remédio desses, que todo mundo toma sem receita. E levem no médico quando acharem seguro. E não digam que falei isso do remédio sem receita.

Não era muita coisa, mas ninguém tinha pensado em água e mel. Pamela agradeceu e desligou.

Augusto saiu para comprar mel, o pai de Stefani teve que voltar para o serviço, Pâmela foi tirar a mesa enquanto Estela ficava observando a filha já deitada na cama. Depois deram o mel para a garota e a deixaram dormir para se recuperar.

O avô da garota foi dar uma olhada no bairro para saber se mais alguém tinha visto algo estranho. Pâmela ficou com Estela, que agora parecia bem mais amigável. Como estavam só as duas, Pâmela resolveu falar algo:

- Eu não posso dizer que sei como você se sente em relação a mim, mas eu gostei de vocês.

Apesar da forma estranha como as coisas aconteceram, eu me sinto bem por não ter que esconder isso de vocês.

Estela, continuou enxugando a louça e não respondeu Pâmela, mas disse:

- Apesar de meio desbocada, achei que sua médica pode me ser útil.

Pamela entendeu a fugida de assunto como algo bom, o que realmente era. Estela não queria falar sobre aquilo, eram sentimentos muito conflitantes para ela. E, como Pâmela permaneceu calada, ela continuou:

- Já faz um tempo que eu insisto para a Stefani ir no ginecologista. Ela precisa criar um vinculo com o médico. Mas ela tem muita vergonha, e nem com uma médica ela quis passar.

- A senhora acha que, por ela ser brincalhona, possa conquistar a Stefani? – Perguntou Pâmela.

- Eu torço para isso. – Respondeu Estela.

Pamela anotou o celular de Jéssica em um papel e deixou sobre a mesa.

Depois de rodar o bairro, Augusto voltou para a casa da filha sem ter encontrado vestígio de que mais alguém tivesse visto a mulher de azul.

Antes de ir embora, o homem subiu até o quarto da neta, para ver se ela estava bem. Ela estava roncando. Augusto se abaixou e cochichou no ouvido de Stefani:

- Obrigado e desculpe.

Deu um beijo na testa da garota e saiu do quarto.

Na cozinha Pamela se despediu de Estela e foi saindo, deixando o namorado sozinho com a filha.

Augusto se despediu da filha, agradecendo o almoço, e saiu atrás de Pâmela.

Estela voltou para o quarto da filha e ficou lá por um tempo, até que Stefani acordasse, já se sentindo um pouco melhor.

A garota tomou um banho, foi para a cozinha beliscar algo e se deparou com a mãe abraçada ao pai, chorando. O marido fazia carinho na cabeça da esposa, tentando acalmá-la. Stefani se aproximou e perguntou o porquê das lagrimas.

A mulher respondeu que não sabia exatamente.

Então o pai sugeriu que pedissem algo para comer pois tinha sido um dia difícil para as duas.

Depois de jantarem, Stefani foi para o quarto e se deparou com a mulher de azul sentada na janela, de costas para ela. Ela estava junto de outra mulher, que tinha os cabelos loiros cacheados até os ombros, e vestia roupas iguais às da outra, só mudando para amarelo.

Quando Stefani fechou a porta, ambas as mulheres coloridas deram uma cambalhota, passando sobre a escrivaninha e caindo de pé.

Se viraram para encarar Stefani, que pôde ver que, apesar de certa agilidade, a mulher de amarelo já aparentava seus 30 ou 35 anos, além de ser um pouco menos pálida que sua amiga de azul.

Stefani perguntou o que elas faziam ali, e a mulher de azul respondeu:

- Peguei pesado com você, achei melhor ver se estava ok.

- Ela tá na TPM, por isso perdeu o controle. – Falou a mulher de amarelo com uma voz bem grossa e serena, deixando a companheira irritada.

- E a do fogo? - Perguntou Stefani.

- Ela é muito ocupada, principalmente durante a noite. – Falou a mulher de azul.

As três ficaram se encarando mudas, até que a de amarelo falou:

- Bom, você está bem, então podemos ir.

Qualquer coisa, vai no hospital e fala que se enroscou em um lençol ou sacola, eles não vão fazer muitas perguntas.

As duas pularam por cima da escrivaninha, na janela, e da janela saíram voando.

Stefani, estava sem sono e se sentou na cadeira da escrivaninha, observando a noite e tentando digerir aquele dia, que ela sabia, mudaria sua vida.

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