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005 - Inseguranças

29/04/2024
Por Danilo Sanches Ferrari

Na escola, no dia seguinte, Stefani, não comentou com ninguém sobre os acontecimentos do dia anterior. Não queria falar de Pâmela, não queria falar das mulheres coloridas; ela apenas queria ter um tempo para se acostumar com tanta maluquice.

Viviane não fez questão de notar que a amiga estava estranha ou, se notou, fez questão de não ligar, pois quando viu Stefani um tanto cabisbaixa logo foi tirando sarro das férias da amiga, que elas provavelmente tinham sido chatas.

Stefani se enfureceu mas, para evitar uma briga e não perder a razão, acabou engolindo em seco.

Aquela terça passou como se fosse uma tartaruga com preguiça. A escola tinha sido mais maçante do que nunca. Em casa não foi melhor. A mãe estava calada e toda pergunta que a garota fazia era respondida apenas com murmúrios.

Quando o pai chegou, à noite, Stefani aproveitou um momento em que ele estava sozinho e questionou sobre a mãe:

- Eu sei que a mamãe tá chateada! Será que eu fui tão errada em ter tentado amenizar as coisas com o vô e a Pâmela?

O homem coçou a cabeça, ficando vermelho, e respondeu apenas que era difícil para um pai falar sobre aquilo com a filha.

Stefani foi dormir mais irritada ainda, já que agora não tinha com quem conversar. As pessoas que sabiam do ocorrido estavam envolvidas demais para dar um conselho neutro e a pessoa de fora que podia falar algo só sabia falar do quão fantásticas tinham sido as próprias férias.

O resto da semana foi igualmente insuportável.

Viviane não parava de se gabar dos garotos com quem tinha saído, os professores começaram sem piedade, o calor não dava trégua, a mãe só sabia sussurrar, o pai só dizia que era constrangedor para ele falar sobre aquilo com a filha.

No sábado, querendo matar alguém, Stefani foi procurar o avô e o encontrou no mercado dele, revisando uns papéis de mercadorias que haviam chegado. Ela nem cumprimentou o velho direito e já foi dizendo que precisavam conversar. O homem pediu para as pessoas que estavam no escritório saírem e perguntou o que estava acontecendo. A garota vomitou toda a sua raiva para o avô, que apenas escutava balançando a cabeça.

Quando ela terminou, o homem quis saber qual era a ordem das coisas que a incomodavam.

Stefani respondeu:

- Minha mãe parece me odiar, meu pai tem vergonha de conversar comigo, minha amiga não está nem ai, não tenho com quem falar! Eu não sei o que vem primeiro!

- Vou resolver isso, afinal eu te devo essa. -

Falou o velho, se levantando e saindo da sala e desaparecendo do mercadinho.

Depois de muito andar sem rumo Stefani resolveu voltar para casa.

Quando ela entrou na sala viu o avô sentado no sofá, sozinho, e estranhou. O homem pediu para ela se sentar e ela obedeceu, cautelosamente.

Então Augusto começou a falar:

- Olha Stefani, saquei o que está acontecendo aqui… Sua mãe não está com raiva de você. Ela só não sabe como falar com você em relação à Pâmela. Ela tá insegura.

- Que tipo de insegurança? - Questionou a garota.

- Bom… É ai que entre o constrangimento do seu pai. - Falou Augusto.

Stefani não entendeu nada e deixou isso bem claro, pois o avô continuou:

- A insegurança da sua mãe se refere ao que ela e seu pai fazem na cama. Entendeu agora?

Stefani se lembrou da mãe se perguntando o que a mãe não fazia e o que Pâmela fazia, no dia em que elas se conheceram.

A expressão de compreensão estampada no rosto da garota fez Augusto sorrir. Ele se levantou, sugeriu que a menina falasse com mãe assim que possível e saiu da casa.

A garota subiu até o quarto para poder pensar, mas ao chegar lá viu a mulher de azul na árvore. Quando Stefani se aproximou da janela, a mulher faz sinal para ela ficar quieta.

Stefani logo entendeu o por quê. Um homem branco, musculoso, estava subindo pelo muro de trás da casa dela. Agora que podia ver melhor, Stefani reparou que ele estava machucado e molhado.

Quando ele estava prestes a passar uma das pernas sobre o muro, para saltar no quintal, a mulher azul fez sair um forte jato de água das mãos derrubando o homem do muro para fora da casa. Stefani só ouviu um estalo forte, seguido por um grito de dor. Depois, a mulher da água saiu voando e saltando por sobre as casas.

Stefani pensou em ligar para a polícia, mas pensou melhor e decidiu deixar alguém que passava na rua fazer isso.

À noite, quando os pais chegaram, Stefani já tinha pedido uma pizza, já tinha comido e estava arrumando a mesa. Estela pediu para o marido subir e ela ficou sozinha com a filha. E lá se sentou e Stefani fez o mesmo, então a mulher começou a falar:

- Seu vô veio me falar que você estava brava comigo… Ele disse que você achava que eu estava com raiva de você, por ter amenizado as coisas com a Pâmela.

Stefani confirmou com um gesto de cabeça e a mãe continuou:

- Talvez você não encare da mesma forma que eu. Seu pai sempre me pediu para fazer certas coisas, que eu nunca quis fazer. E aí o vovô aparece com uma puta… Você ficaria como?

Stefani imaginava algo do tipo, mas achava que os pais confiavam plenamente um no outro e falou isso para a mãe, que respondeu:

- Eu confio no seu pai… Eu não confio nos hormônios dele. Isso me deixa preocupada, insegura… Mas você só vai entender bem quando tiver seu namorado ou marido.

Estela se despediu da filha e foi para o quarto. A garota permaneceu na mesa até sentir sono.

Então, sem grandes coisas acontecendo no domingo e os pais voltando ao normal, Stefani resolveu falar para a mãe marcar uma consulta para ela com a médica de Pâmela, pois precisava perguntar algumas coisas e a mãe não teria condições de responder.

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